REVISTA DE IMPRENSA LITERÁRIA publica hoje a quinta entrevista de uma série dedicada a autores portugueses. Depois de Paulo Moreiras, Marta Dias Oliveira, Nuno Duarte e Patrícia Reis, segue-se António Mota.
Amanhã: Dulce Garcia.

Se pudesse escolher uma ou duas pessoas para lerem o seu livro mais recente, quem seriam?
Como este ano publiquei o romance Espera por mim, e o livro para crianças Os avós são fofinhos, fazia opções diferentes. Para o romance escolhia alguém que não estivesse ligada ao meio literário, que tivesse interesses diferentes dos meus. Para o livro Os avós são fofinhos, escolhia todos os avós que levam e trazem os netos das escolas.

Como lida com o bloqueio criativo?
Caminho, caminho, caminho e falo em voz alta comigo mesmo. Leio. Leio. E sei que nós somos como as árvores que frutificam muitos anos depois de serem plantadas e enxertadas. Os frutos acontecem no seu devido tempo. Temos de ter paciência. E há árvores que mirram, é a vida. Por vezes esqueço tudo isto e ponho-me a pensar que o meu fim está a chegar mais depressa do que julgava. Fico irritadiço. Depois acalmo quando aparece a primeira frase no ecrã.
Qual foi o melhor ou o pior conselho de escrita que já recebeu?
O melhor conselho foi-me dado pela Agustina Bessa-Luís no tempo em que eu estava a começar: “Nunca queira estar na moda”. Já cá ando há 46 anos e nunca estive na moda. Tive sorte. A Ilse Losa ensinou-me “Não tenha pressa. Escreva e guarde.”. Do pior conselho não me lembro.
Quem é a pessoa, ou qual é o lugar ou prática que teve o maior impacto na sua formação como escritor?
Tenho uma enorme dívida de gratidão à biblioteca itinerante da Gulbenkian que passava na minha aldeia. Sem ela eu não tinha seguido este caminho. E há livros que me marcaram muito na minha juventude. Nunca esqueci A criação do mundo, Contos da Montanha, O velho e o mar, A lã e a neve, Emigrantes, Esteiros, Só, Poemas de Manuel Bandeira, Capitães da Areia, Clarissa, As vinhas da Ira, O Malhadinhas, A cidade e as Serras, Maria Moisés, O retrato de Ricardina, O tio Goriot, Os miseráveis, Germinal, O estrangeiro, e tantos outros.
Há alguma parte da sua rotina de escrita que poderia surpreender os seus leitores?
Para começar a escrever tenho de ouvir música. Mas são sempre as mesmas. Sempre! Há muitos anos que ouço o álbum Le pas do chat noir, de Anouar Brahem. Quando embalo, o gato continua, mas eu deixo de o ouvir, porque já estou em viagem.
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António Mota nasceu em Vilarelho, Ovil, concelho de Baião, a 16 de julho de 1957. Cedo concluiu o curso do Magistério Primário e aos 18 anos era já professor do Ensino Básico. Em 1979 publicou o seu primeiro livro, intitulado A Aldeia das Flores, e não mais parou de escrever, tendo-se dedicado essencialmente à literatura infantojuvenil com mais de 80 obras publicadas. Recebeu vários prémios, dos quais se destacam o Prémio Gulbenkian de Literatura para Crianças e Jovens (1990) para Pedro Alecrim, o Prémio António Botto (1996) para A Casa das Bengalas e o Grande Prémio Gulbenkian de Literatura para Crianças e Jovens, categoria “Livro Ilustrado” (2004), para Se eu fosse muito magrinho (com ilustrações de André Letria). Em 2014 e 2015 foi nomeado para o prémio ALMA, um dos mais importantes prémios internacionais na área da literatura infantojuvenil. (via Wook)
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Comovente.
A palavra que me ocorreu quando terminei de ler esta entrevista, quiçá pelas duas extraordinárias referências: as Escritoras Maria Agustina e Ilse Losa.
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