Rafael Gallo em entrevista à RIL: “Eu não acredito que exista “bloqueio de escritor” como algo único, uma espécie de mal monolítico. Acredito que há diferentes razões, ou contextos, para que não se consiga avançar na escrita”

Rafael Gallo é o convidado de hoje da Revista de Imprensa Literária. É também o primeiro – e será o único – escritor não português a figurar nesta série de entrevistas. Mais uma para ler e guardar.

Amanhã: Mário Cláudio.

Segunda-feira: Susana Amaro Velho.

Todas as entrevistas anteriores estão acessíveis a partir daqui.

Boas leituras.

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Se pudesse escolher uma ou duas pessoas para lerem o seu livro mais recente, quem seriam?

Uma ou duas pessoas para quem ele significasse muito.

Como lida com o bloqueio de escritor?

Eu não acredito que exista “bloqueio de escritor” como algo único, uma espécie de mal monolítico. Acredito que há diferentes razões, ou contextos, para que não se consiga avançar na escrita: pode ser uma dificuldade com a estrutura ou enredo, que formou um nó para o qual não se encontra forma de desatar; podem ser motivos emocionais ou psicológicos da pessoa que escreve, como não ver mais sentido naquele trabalho. Então, é muito diferente lidar com cada uma dessas situações, não há um modo único para um problema que não é único. Sei por experiência própria.

Qual foi o melhor ou o pior conselho de escrita que já recebeu?

Acho que um dos melhores conselho que recebi — e, como costuma acontecer com os melhores conselhos, só o compreendi muitos anos depois do que deveria — veio de outro escritor, João Anzanello Carrascoza, sobre ter segurança na inteligência dos leitores e das leitoras. Não escrever como alguém na obrigação de demarcar com ênfase, certeza e insistência aquilo que espera que seja interpretado a partir de uma história. Saber que a história fala por si.   

Quem é a pessoa, ou qual é o lugar ou prática que teve o maior impacto na sua formação como escritor?

Muitas pessoas tiveram grande impacto na minha formação, inclusive aquelas que nunca conheci, mas cujos trabalhos foram como aulas para mim. Tive um professor de música que foi muito importante para meu amadurecimento criativo; tive psicólogas que foram muito importantes para me ensinar sobre a vida; tive livros, pinturas, filmes, desenhos e canções que foram fundamentais para semear minha imaginação.

Há alguma parte da sua rotina de escrita que poderia surpreender os seus leitores?

Talvez o fato de que eu só escrevo ouvindo música. E bem alto.

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Rafael Gallo nasceu em São Paulo, no Brasil, onde publicou o romance Rebentar (2015), vencedor do Prémio São Paulo de Literatura e já publicado pela Porto Editora, e Réveillon e outros dias (2012), livro de contos vencedor do Prémio Sesc de Literatura. Tem ainda diversos textos em antologias e coletâneas, incluindo publicações em países como França, EUA, Cuba, Equador e Moçambique. Com Dor fantasma, foi laureado vencedor do Prémio Literário José Saramago 2022. Atualmente reside em Portugal.

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