José Carlos Barros em entrevista à RIL: “Dois conselhos que fui ouvindo ao longo do tempo: «Não desistas» e «Deixa-te disso». Ainda não sei qual é o conselho bom e o conselho mau.”

Aviso de beldade à vista: há uma máquina de escrever na entrevista RIL de hoje. José Carlos Barros é o escritor número 41 – e eu sei que vocês vão gostar de o ler.

Amanhã: Rafael Gallo.

Domingo: Mário Cláudio.

Todas as entrevistas anteriores estão acessíveis a partir daqui.

Boas leituras.

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Se pudesse escolher uma ou duas pessoas para lerem o seu livro mais recente, quem seriam?

O meu pai, que já não o pode ler.

Como lida com o bloqueio criativo?

Com frequência, quase em permanência: insistindo, riscando, apagando, recomeçando, acreditando que se falharmos muitas vezes acabamos por acertar.

Qual foi o melhor ou o pior conselho de escrita que já recebeu?

Dois conselhos que fui ouvindo ao longo do tempo: «Não desistas» e «Deixa-te disso».
Ainda não sei qual é o conselho bom e o conselho mau.

Quem é a pessoa, ou qual é o lugar ou prática que teve o maior impacto na sua formação como escritor?

A carrinha da Gulbenkian cheia de livros, «O Corsário Negro» de Emilio Salgari, as
andanças com o meu avô Francisco pelas vinhas e as macieiras de Ribas, um exemplar das Obras de Guerra Junqueiro em papel bíblia, o primeiro Quixote, a mina do Eiró, as «Ficções» de Jorge Luis Borges na tradução de Carlos Nejar, a colecção da RTP – Editorial Verbo de inícios da década de 1970, a colecção Duas Horas de Leitura da Editorial Inova, e, em particular, três livros desta colecção: «Apenas Homens», de Vergílio Ferreira, «Chuva na Madrugada», de Constantino Paustovski, e «Michael Kohlhaas, o Rebelde», de Heinrich von Kleist.

Há alguma parte da sua rotina de escrita que poderia surpreender os seus leitores?

Acho que não. Enfim, há um canto da casa com as estantes dos livros e uma mesa. Idealmente passaria aí as manhãs a escrever, com o computador, um caderno e a minha Lettera 32 da Olivetti, em silêncio, com os cortinados quase fechados para deixarem entrar apenas um pouco de luz. Na verdade, raramente consigo sentar-me a essa mesa.

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José Carlos Barros (Boticas, 1963) é licenciado em Arquitetura Paisagista pela Universidade de Évora e vive no Algarve, em Vila Nova de Cacela. A sua atividade profissional tem sido exercida nos domínios do ordenamento do território e da conservação da natureza. Foi diretor do Parque Natural da Ria Formosa. É autor, entre outros, dos livros de poesia Uma Abstracção InútilTodos os NáufragosTeoria do EsquecimentoPequenas Depressões (com Otília Monteiro Fernandes) e As Leis do Povoamento (editado também em castelhano). Com Sete Epígonos de Tebas venceu o Prémio Nacional de Poesia Sebastião da Gama 2009. Em 2003 estreou-se na prosa com O Dia em Que o Mar Desapareceu. Venceu vários prémios literários (com destaque para o Prémio Nacional de Poesia Sebastião da Gama, que lhe foi atribuído duas vezes) e os seus textos poéticos estão publicados em vários países. O Prazer e o Tédio foi o seu primeiro romance, seguido de Um Amigo Para o Inverno (Casa das Letras, 2013), com o qual foi finalista do Prémio LeYa em 2012. Os seus livros mais recentes (poesia) são os seguintes: O Uso dos Venenos, ed. Língua Morta (2ª edição, 2018), A Educação das Crianças, ed. Do Lado Esquerdo Editora, 2020, Estação – Os Poemas< do DN Jovem, 1984-1989, ed. On y Va, 2020, e Penélope Escreve a Ulisses, Edições Caixa Alta, 2021. Depois, publicou As Pessoas Invisíveis (Prémio Leya, 2021) e Taludes Instáveis. (via Wook)

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