O entrevistado número 39 da Revista de Imprensa Literária é José Alberto Postiga, autor de Caderno Íntimo da Ausência. Ausentes não estamos nós, pelo menos durante os próximos quatro dias. A saber:
amanhã, Fernando Pinto do Amaral; sexta-feira, José Carlos Barros; sábado, Rafael Gallo; e, por fim, no domingo, Mário Cláudio.
Todas as entrevistas anteriores estão acessíveis a partir daqui.
Boas leituras.
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Se pudesse escolher uma ou duas pessoas para lerem o seu livro mais recente, quem seriam?
Dado que o meu último livro publicado (“Caderno Íntimo da Ausência“, Ed. Imprensa Nacional — Casa da Moeda, Coleção Comunidades Portuguesas, dezembro de 2023) aborda a temática migração, escolheria para o ler um qualquer dirigente político que atenta contra os direitos e liberdades daqueles que escolhem Portugal para viver. Somos um país de emigrantes. Por conseguinte, temos o dever de nos colocar no lugar do outro.

Como lida com o bloqueio criativo?
Estou, de dois meses a esta parte, após ter concluído o que creio ser o meu primeiro romance digno de ser publicado, a atravessar um bloqueio criativo. Não estou — para já — preocupado. Sei o que quero fazer a seguir e sei também que é uma questão de tempo até a inspiração voltar a bater à minha porta! Passei dez anos consecutivos a criar: quatro títulos em poesia publicados, colaborações aqui e ali, o processo de escrita do romance, vários textos escritos para a gaveta… Agora, é tempo para viver o que não se vive durante os processos criativos. Deixar os dias passarem, sem dramas. Compensar a família e os amigos com a companhia que merecem. Respirar ar puro, longe da poluição dos manuscritos.
Qual foi o melhor ou o pior conselho de escrita que já recebeu?
O melhor conselho de escrita que me deram foi: “Sê disciplinado a escrever, mas não tenhas pressa para publicar. Os livros carecem de um tempo próprio”. O pior conselho foi: “Segue o registo do autor X ou Y se queres vingar na escrita. Eles vendem livros como quem vende pãezinhos!”. Não, obrigado!
Quem é a pessoa, ou qual é o lugar ou prática que teve o maior impacto na sua formação como escritor?
Há três pessoas que se destacam na minha formação enquanto autor: o Luís Diamantino, Vice-presidente e Vereador da Cultura da minha cidade, Póvoa de Varzim, e os escritores Onésimo Teotónio Almeida e António Mota. São mestres que tenho a sorte de ter por perto, cada um à sua maneira. Mestres que se tornaram amigos. Há uma quarta pessoa que, sem saber, muito me ensina com o que escreve, a poetisa Maria do Rosário Pedreira. E há ainda uma quinta, por tudo o que faz para que eu me permita escrever, a minha esposa Angélica. Quanto ao “lugar” de maior aprendizagem, é, sem dúvida, o Festival Literário Correntes D’Escritas. Por tudo o que aprendo ao privar com os escritores que por lá passam.
Há alguma parte da sua rotina de escrita que poderia surpreender os seus leitores?
Creio que não! Mas gosto de escrever a ouvir música clássica. E a ouvir o restolho do mar!
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José Alberto Postiga nasceu na Póvoa de Varzim em 1977. Proveniente de uma família humilde de pescadores, abandonou a escola cedo e exerceu a profissão até aos 21 anos, altura em que o mar tentou tirar-lhe a vida. A residir na Suíça desde 2005, trabalha como Gestor de Projeto e Coordenador Geral de Segurança e Higiene no Trabalho na área da Construção Modular, para o qual se formou. Publicou o seu primeiro livro em 2014. Seguiram-se as obras poéticas: O Inventário do Sal, 2016, A Litania da Cinza, 2018, Fevereiros Doutrinários, 2020, e Caderno Íntimo da Ausência, 2023. Publicou também crónicas na imprensa e diversos poemas originais em revistas e antologias, dos quais destaca: Escavar O Mar Na Própria Artéria (8 poemas dedicados à procedência, integrados no segundo volume D`Escritas 1 dia, editado pelo Município da Póvoa de Varzim. É, desde 2019, conferencista residente na UNITRE (Universidade Popular — trilingue — em Lucerna, Suíça), no âmbito do curso Literatura Viva. É beneficiário da Sociedade Portuguesa de Autores e sócio do PEN Clube Português.
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