Rui Bondoso em entrevista à RIL: “Faço pausas que podem durar minutos, horas ou dias (não muitos). Melhor, dou a mim mesmo a permissão para me afastar da tarefa, e então caminho, leio e aprecio outras coisas da vida”

O entrevistado número 35 da Revista de Imprensa Literária é Rui Bondoso, autor do livro O editor esquecido: Eduardo Salgueiro e a Editorial Inquérito.

Amanhã: Isabel Rio Novo.

Segunda-feira: Ricardo Figueira.

Todas as entrevistas anteriores estão acessíveis a partir daqui.

Boas leituras.

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Se pudesse escolher uma ou duas pessoas para lerem o seu livro mais recente, quem seriam?

Sem pestanejar, Agostinho da Silva e Adolfo Casais Monteiro. E, podendo, alargava o leque e incluía ainda António Sérgio, João Gaspar Simões e José Marinho. Eles, melhor do que ninguém, confessar-me-iam se o meu ensaio biográfico “O editor esquecido: Eduardo Salgueiro e a Editorial Inquérito” faz ou não jus à grandeza da vida e obra deste editor que todos eles conheceram bem porque foram seus colaboradores e autores editados por ele.

Como lida com o bloqueio criativo?

Faço pausas que podem durar minutos, horas ou dias (não muitos). Melhor, dou a mim mesmo a permissão para me afastar da tarefa, e então caminho, leio e aprecio outras coisas da vida.

Qual foi o melhor ou o pior conselho de escrita que já recebeu?

O meu próprio. “Jamais estarei à altura de escrever um livro que interesse ao comum do leitor”.  

Quem é a pessoa, ou qual é o lugar ou prática que teve o maior impacto na sua formação como escritor?

Seguramente a leitura de jornais, em especial os seus suplementos literários. Destaco aquele criado pela Agustina Bessa-Luís n’O Primeiro de Janeiro, por alturas em que ela exerceu funções na direção do jornal. Foi com as escolhas dela que aprendi a gostar de Florbela Espanca, Aquilino Ribeiro, Fernando Namora e de tantos outros poetas e escritores, que depois tiveram impacto na minha formação como escritor.

Há alguma parte da sua rotina de escrita que poderia surpreender os seus leitores?

Os géneros musicais que ouço quando escrevo. São antípodas. O som ambiente tanto pode ser o de Mozart, Beethoven, Bach, Paganini e Ennio Morricone como o de Black Sabbath, Deep Purple, Sex Pistols, Led Zeppelin e Alice Cooper.

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Rui Bondoso nasceu em Angola. Fez os estudos académicos na Universidade do Porto (Estudos Europeus) e na Universidade Aberta (Ciências Sociais). É jornalista, escritor, ensaísta e biógrafo oficial de Eduardo Salgueiro, escreveu o ensaio biográfico ‘O editor esquecido: Eduardo Salgueiro e a Editorial Inquérito’ (2024). Escreve regularmente ensaios para a revista Anim’Arte – Projeto editorial de divulgação cultural do Grupo de Intervenção e Criatividade Artística de Viseu (GICAV) e para revista Raiz, da Fundação Manuel Viegas Guerreiro, sediada em Querença, Loulé. Esteve três décadas nos jornais e na comunicação. Fez formação na melhor escola de jornalismo do país, o CENJOR, e fez-se lá também formador. Foi diretor do Correio Beirão e jornalista do Jornal de Notícias durante 17 anos. Nos livros, tem um fraquinho pela prosa neorrealista, mas deleita-se mais com a narrativa pícara de Aquilino, que lhe faz lembrar Guimarães Rosa. Ajudou a criar a Fundação Aquilino Ribeiro e foi fundador do Centro de Estudos Aquilino Ribeiro.

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