O mundo não pára e as entrevistas RIL também não. Hoje com Maria Inês Almeida, autora da coleção Diário de uma miúda como tu (entre muitos outros títulos), que se estreou recentemente no segmento “young adult” com O que fazemos com este amor?.
Amanhã: Mário Rufino.
Quinta-feira: Clara Macedo Cabral.
Todas as entrevistas anteriores estão acessíveis a partir daqui.
Boas leituras.
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Se pudesse escolher uma ou duas pessoas para lerem o seu livro mais recente, quem seriam?
Escolheria alguém que achasse que já não tinha mais nada para dizer sobre o amor e outra pessoa que ainda estivesse a descobrir o que é senti-lo pela primeira vez. Porque este livro vive entre esses dois extremos: o desencanto e o deslumbramento. Seria bonito se tocasse quem já desistiu e quem ainda nem começou.

Como lida com o bloqueio criativo?
Afasto-me da página. Vou caminhar, leio outra coisa, ouço música, vejo filmes. Às vezes, o bloqueio é só uma maneira do corpo dizer que precisa de silêncio antes de falar outra vez. Já aprendi que forçar a escrita pode matar o que ainda está a germinar.
Qual foi o melhor ou o pior conselho de escrita que já recebeu?
O pior foi “escreve como os outros escrevem”. O melhor foi “escreve como tu sentes”. Acho que todo o caminho de escrita passa por isso: desaprender o que nos disseram que era certo, até encontrarmos a nossa própria respiração nas palavras.
Quem é a pessoa, ou qual é o lugar ou prática que teve o maior impacto na sua formação como escritora?
O silêncio. E as pessoas que me ensinaram a escutá-lo. Desde a minha mãe a alguns professores, e até a autores que li sozinha no quarto. Escrever, para mim, começou por ser uma forma de conversar com o que não tinha voz. E acho que ainda é.
Há alguma parte da sua rotina de escrita que poderia surpreender os seus leitores?
O que talvez surpreenda os leitores é que, ao escrever O que fazemos com este amor?, muitas vezes tive de parar para respirar. Não por falta de ideias, mas porque me emocionava mesmo com o que estava a escrever. A maior surpresa foi perceber que, mesmo sendo ficção, aquele amor me ensinou coisas reais sobre mim. Escrever, para mim, é uma forma de escuta. E para ouvir bem é preciso desacelerar. Gosto de escrever durante a semana, de manhã. Mas claro que se alonga para a parte da tarde. É raro combinar alguma coisa com alguém (almoços, cafés) quando estou a escrever. A não ser que seja depois das 17:00 ou ao fim-de-semana. São aquelas personagens com quem me encontro nesses dias.
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Maria Inês Almeida nasceu em Lisboa e é jornalista de formação (Universidade Católica Portuguesa). Trabalhou vários anos como jornalista, recebeu o Prémio Revelação do Clube de Jornalistas mas decidiu entrar no mundo dos livros infantojuvenis em 2009. Tem mais de 65 livros publicados (vários constam no Plano Nacional de Leitura) e alguns títulos noutros países. “Diário de uma miúda como tu“, “Sem Abrigo“, “Quando eu For… Grande“, “A Admirável Aventura de Malala“, “O Pequeno Livro da Vida“, “O Pequeno Livro da Empatia“, entre outros, são alguns dos seus livros.
É mãe do José e da Maria Francisca e acredita que os livros podem mudar o Mundo. (via Wook)
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