Aqui está mais uma entrevista RIL para lhe animar o início da semana. Hoje é a vez de Afonso Reis Cabral.
Amanhã: Maria Inês Almeida.
Quarta-feira: Mário Rufino.
Todas as entrevistas anteriores estão acessíveis a partir daqui.
Boas leituras.
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Se pudesse escolher uma ou duas pessoas para lerem o seu livro mais recente, quem seriam?
Escolheria a minha avó. Não pelo livro, mas por significar que, podendo ela lê-lo, estaria viva.

Como lida com o bloqueio criativo?
Com longos passeios, com procrastinações terríveis, escrúpulos debilitantes que é preciso combater, e muita leitura: quando não há outro remédio, dando com a cabeça na parede até esta ceder.
Qual foi o melhor ou o pior conselho de escrita que já recebeu?
Ler maus livros. Ler livros literariamente péssimos. Estamos habituados ao contrário, a ver a beleza sem as costuras à mostra. Nos maus livros, paradoxalmente, não há como esconder as costuras. Constatamos com muita clareza o que não devemos fazer.
Quem é a pessoa, ou qual é o lugar ou prática que teve o maior impacto na sua formação como escritor?
Responder quanto à prática é mais fácil. Pessoa e lugar meter-me-iam num abismo onde agora não quero entrar. Prática: escrever a primeira versão à mão tem sido muito útil. Nos meus cadernos não há pressão digital, apenas as páginas em branco e a minha letra a preenchê-las. Usei sete moleskines para O Último Avô.
Há alguma parte da sua rotina de escrita que poderia surpreender os seus leitores?
Aproveito cada pretexto para novas experiências e recrio algumas cenas. Certa vez, para escrever uma passagem do Pão de Açúcar, segui uma pessoa na rua durante um bom tempo. Felizmente ela não reparou e eu pude continuar a escrita sabendo o que isso é.
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Afonso Reis Cabral nasceu em 1990. Aos 15 anos publicou o livro de poesia Condensação. É licenciado em Estudos Portugueses e Lusófonos, fez mestrado na mesma área e tem uma pós-graduação em Escrita de Ficção. Foi duas vezes à Alemanha de camião TIR em busca de uma história, a primeira das quais aos 13 anos. Trabalhou numa vacaria, num escritório de turismo e num alfarrabista. Em 2014, ganhou o Prémio LeYa com o romance O Meu Irmão. No final de 2018, publicou o seu segundo romance, Pão de Açúcar, com forte acolhimento por parte da crítica e vencedor do Prémio Literário José Saramago – Fundação Círculo de Leitores em 2019. Entre abril e maio de 2019, percorreu Portugal a pé ao longo dos 738,5 quilómetros da Estrada Nacional 2, de que resultou o livro Leva-me Contigo – Portugal a pé pela Estrada Nacional 2. As suas obras encontram-se traduzidas em várias línguas. Tem contribuído com dezenas de textos para as mais variadas publicações. É colunista do Jornal de Notícias, semanalmente com a rubrica «Ansiedade Crónica», e participa no programa «Cinco à Quinta», da Antena 1. É presidente da Fundação Eça de Queiroz e trabalha como editor freelancer. (via Wook)
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