REVISTA DE IMPRENSA LITERÁRIA publica hoje mais uma entrevista a uma escritora portuguesa. Desta vez, Julieta Monginho.
Todas as entrevistas estão acessíveis a partir daqui.
Amanhã: Sandro William Junqueira.
Sábado: Rita Canas Mendes.
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Se pudesse escolher uma ou duas pessoas para lerem o seu livro mais recente, quem seriam?
Escolheria os agressores que conheci pessoalmente e através dos relatos de amigas. Gostaria também que o livro fosse lido por quem anda confuso com os limites entre sedução e abuso. Aos (e às) verdadeiros misóginos falta ressonância para entender esta leitura.

Como lida com o bloqueio criativo?
Escrevendo. Salvo quando em convívio, abro o computador todos os dias. Quase sempre há uma ou duas frases que se aproveitam. Depois é decidir o que fazer com elas. Às vezes nada, às vezes um romance ou um conto.
Qual foi o melhor ou o pior conselho de escrita que já recebeu?
Os melhores conselhos de escrita recebi-os do António Lobo Antunes. Comparando textos escritos por mim, dizia “isto és tu, isto não és tu”. Ou então “não és tu quem tem de ser inteligente, o livro é que tem de ser inteligente.” Ou seja, escavar a fundo, não tentar demonstrar erudição nem fazer piruetas estilísticas.
Quem é a pessoa, ou qual é o lugar ou prática que teve o maior impacto na sua formação como escritor?
O meu pai. A voz dele, dizendo poemas que sabia de cor, contando-me histórias fantásticas até adormecermos os dois e disponibilizando-me toda a sua biblioteca heterogénea e heterodoxa mal aprendi a ler.
Há alguma parte da sua rotina de escrita que poderia surpreender os seus leitores?
Não sei se surpreende, mas aqui vai. Quando abro o computador, só começo a escrever depois de uma série de jogos – exercícios de memória e agilidade de raciocínio. Quando vi o filme José e Pilar descobri que Saramago tinha a mesma prática.
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Julieta Monginho nasceu em Lisboa, com raízes no Alentejo, onde os pais nasceram e onde viveu entre os cinco e os quinze anos. Em 1996, publicou o seu primeiro romance, Juízo Perfeito. Desde então, seguiram-se outros livros de ficção, participações em colectâneas de contos e colaborações com revistas. Publicou ainda o diário do ano 2001 – o primeiro do milénio –, intitulado Onde Está O J?.
A sua obra tem sido premiada e reconhecida pela crítica. Metade Maior e Os Filhos de K foram finalistas de vários prémios literários. Em 2000, venceu o Prémio Máxima de Literatura com o romance À Tua Espera. Em 2008, A Terceira Mãe recebeu o Grande Prémio de Romance e Novela APE/DGLAB. Dez anos depois, Um Muro no Meio do Caminho foi distinguido com o Prémio PEN Clube de Narrativa e o Prémio Literário Fernando Namora. Em 2021, o livro Volta ao Mundo em Vinte Dias e Meio ganhou o Grande Prémio de Romance e Novela da APE/DGLAB.
Exerceu funções como magistrada do Ministério Público, especializada na área de Família e Crianças. Para mais informações: http://www.julietamonginho.pt. (via Wook)
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